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punch drunk love

um blog romântico

sábado, janeiro 31, 2004

... 

Preciso Amar um pouco, nem que seja por um segundo
posted by Ce  # 1/31/2004 01:26:00 PM

sexta-feira, janeiro 30, 2004

Imprevisto 

De repente eles se viram naquela situação.
A chuva caia forte, ela sentia suas roupas encharcadas grudadas no seu corpo. Ele sentia o frio do vento gelado misturado com a dor dos pingos fortes da chuva.
Ela sentia arrepio pelo corpo todo, tinha muito frio e os cabelos colados no rosto a incomodavam. Ele estava cansado de lutar contra o peso da sua jaqueta pesada.
Após andar seis quadras em busca de uma banca com cigarros aberta e ser pega de surpresa pela chuva, aquilo para ela parecia provocativo. Ele sabia que não encontraria um táxi aquela hora, mas andar na chuva e ainda ter de passar por isso seria demais, até para ele.
Olhando-o ali, na sua frente, apenas ele, em meio a chuva, fazia-a lembrar de momentos indesejáveis e cruéis. Ele podia ver naquele rosto feminino molhado mais do que a água, havia muita amargura de todo o sofrimento passado.
Lembrou-se ela de todas as brigas, agressões, decepções e sentiu um ódio enorme percorrer todo o corpo. Aqueles três meses em que havia evitado vê-la não haviam servido para apagar a lembrança da traição, sentiu vontade de esmagá-la.
As lembranças dele a fizeram rangir os dentes, não podia acreditar na ironia do destino. Seus punhos estavam cerrados, ele já não sabia se poderia agüentar por mais tempo o silêncio.
Eles ficaram ali, a respiração profunda, se encarando, como se fossem latir um para o outro. E a chuva continuava a cair em pingos pesados e densos em seus rostos. E a tensão aumentava.
Quase não podiam mais ouvir a chuva, apenas a respiração ofegante de ambos. Eles se precipitaram ao mesmo tempo, aproximaram-se com rapidez um sobre o outro. E abriram a boca para gritarem o que estava dentro deles, um com os olhos nos do outro.
Mas nada saiu.
Eles então se olharam assustados. E num impulso se beijaram compulsivamente, como se a saudade de suas bocas fosse maior do que toda a amargura e tristeza que um havia causado ao outro.
E ficaram assim, ainda por algum tempo.

posted by Ce  # 1/30/2004 06:45:00 PM

quarta-feira, janeiro 28, 2004

Quadrilha 

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Drummond
posted by Ce  # 1/28/2004 04:52:00 AM

Quase Um Segundo 

Eu queria ver no escuro do mundo
Onde está tudo o que você quer
Pra me transformar no que te agrada
No que me faça ver
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?
Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?
Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?

Paralamas do Sucesso
posted by Ce  # 1/28/2004 04:19:00 AM

terça-feira, janeiro 27, 2004

Panderão 

A alegria do Maneco era de domingo. Era quando ele ficava defronte do espelho, reparando no corpo magrela, de ossos aparecendo, enquanto passava a loção comprada especialmente para a ocasião. Escolhia a melhor roupa, já surrada pelo tempo, mas ainda assim melhor que as outras. Passava o pente no cabelo e escovava os dentes que eram seus únicos bens ainda intactos.
Tudo isso só pra ir pra roda de samba. Ver a roda de samba no domingo fazia a alegria da semana inteira do Manecão. Principalmente quem participa da roda de samba.
A Jona quando requebrava na frente do Manecão ele ia a loucura! Ele podia ficar por horas olhando aquela mulher enorme sambando na sua frente, sorrindo grande, mostrando todos os dentes brancos. Quando a negona sacolejava as nádegas na frente do magrelo, ele suava em bicas, sorrindo feito um louco. Nada mais existia pra ele.
E o João quando via o Manecão todo se babando pra Jona não se agüentava:
- Olha só esse Manecão!!!! Não tira os olhos da pretona!!!! Se liga Maneco, a Jona num é pra você não!
- Ah, que mulher – suspirava o Manecão.
- Essa Jona ta mais pra Jumba, o Maneco, assim ela te quebra.
- Que isso! Não fala assim. Isso num é gordura! É muita mulher.
- Queria ver oce da conta de tudo isso! – e o João caia na gargalhada.
Mas Maneco não desistia não. Estava apaixonado. Aquele dia ia ser diferente. Manecão tinha treinado o mês todo. Praticada noite após noite. Só pra poder entrar na roda de samba tocando o panderinho. Só pra ver a Jona sambar pra ele. Dessa vez ela ia perceber que ele tava ali, só no pandero, batendo no ritmo das reboladas da nega.
Mais um domingo e a roda se formou. O Manecão sentou no banquinho, no meio da roda, pra ter a melhor visão da Jona. Todo orgulhoso, camisa nova que juntou o mês todo pra comprar.
A Jona foi chegando apressada, toda esbaforida, tirando as outras mulheres do caminho. Maneco suspirou, pensando que aquela nega ia ser sua. A roda começou a tocar e o Manecão se esforçando ao máximo pra ver se a Jona sambava pra ele. E ela toda sorridente, só sambava pra ela mesma. Com os dentes tudo branco aparecendo, saia curta, ela se requebrava toda e o Maneco lá, suando no pandeiro.
A Jona nem havia notado ainda o pobre Manecão e a hora da feijoada chegou, e nessa hora ninguém queria saber de música ou de dança. A Jona era uma das primeiras da fila pra comer feijão.
Manecão se precipitou e disse que fazia questão de servir todo mundo. D. Maria, a cozinheira, achou que era bonito e aprovou a idéia, todo mundo gostou e já foi logo passando os pratos pro Maneco, que enchia os pratos fundos de arroz, feijão, farofa, lingüiça e laranja, nunca se esquecendo da vagem, que a feijoada de domingo era coisa chique!
A Jona colocou apressada, brava e mandona o prato na frente do Maneco, ele desconcertado, quase deixou cair o prato. A Negona não gostou, não. Ele respirou fundo, segurou firme o prato e colocou o feijão por baixo do arroz, como ele sabia que ela gostava, bastante arroz. Foi colocando tudo, um sobre o outro, como ela costumava fazer. Olhou pra ela que tinha as mãos estendidas para o prato:
- Jona, o rabo do porco é seu, sei que você gosta – e sorriu pra ela.
Pela primeira vez viu a dureza da Jona se desfazer num sorriso tímido e foi como se de repente ela ficasse leve como uma pluma, toda sem jeito pro magrela. E durante toda a feijoada não tirou os olhos do Manecão, toda envergonhada.
Depois do almoço, naquele domingo a Jona sambou só pro Manecão...

posted by Ce  # 1/27/2004 07:50:00 PM

terça-feira, janeiro 20, 2004

Janela 

Descobriu o amor quando, da janela do carro, viu um cachorro latindo ao vento no carro paralelo. As latidas ecoavam distantes, espantando qualquer deus que tentasse estilhaçar os laços que haviam naquele carro: a mãe ao volante, o fillho no banco de trás, o próprio cachorro no banco da frente, o cheiro de morte que vinha do hálito do caminhoneiro, que estava prestes a derrapar o caminhão.
posted by Guilherme  # 1/20/2004 11:48:00 AM

quinta-feira, janeiro 15, 2004

Desfocados 

Entrou no café com ímpeto e decisão. Os rostos passaram desfocados, menos seu alvo: Joana. Continuou caminhando e o café pareceu ser bem maior do que era. Seu estômago pareceu ser maior também, seu medo, a beleza de Joana, tudo maior. Chegou na mesa. Joana fumava um cigarro e folheava uma revista sem realmente vê-la. Parou e apoiou as mãos na mesa. Abriu a boca e nenhuma palavra saiu. Nenhuma. Joana lentamente tirou os olhos da revista e os pousou no rosto dele. Ele novamente abriu a boca e nada saiu. Joana levantou uma das sobrancelhas, um ponto de interrogação na face. Ele se virou e correu para o mais longe dali.
posted by Guilherme  # 1/15/2004 04:28:00 PM

terça-feira, janeiro 13, 2004

paula 

paula era mulher da vida. tivara uns 600 reais por dia e só trabalhava de noite.

nas quartas-feiras ia para o mercado municipal para comprar iguarias. só ficava a mostra a sua tatuagem perto do cocx. todos os vendedores a tinham como boa cliente. comprava mtas coisas refinadas.

paula não trabalhavam de quarta. cozinhava pratos sofisticados que aprendera com um cliente que era chef. ele foi morar na frança e casou-se e desde então paula começou a frequentar o mercado municipal.

jantava sozinha, fazia questão.

até que em uma quinta-feira encontraram-na morta em sua cama. sobre a mesa restos de sopa de legumes e ervas . o pudim estava intacto.
posted by Marcio  # 1/13/2004 05:39:00 PM

o sol 

o que eu quero é amanhecer com você.
ninguém entende porque isso é tão importante: amanhecer.
sentar e ver o sol aparecer lá no fio.
sentir um calorzinho no rosto e fechar os olhos para não queimar a retina.
amanhecer é provocar a descontinuidade,
viver dois dias em um.
é vencer o cansaço por algo belo
e ser acompanhado nesse ato é uma das formas mais sublimes de companherismo.

é como se olhássemos o futuro aparecendo para nós.
estamos testemunhando o dia seguinte.
e não estou só nessa visão.
você está comigo.
você também quis ver,
mas só fazia sentindo se fosse comigo.
e para mim,
só fez porque estava com você.

e imagino a gente perdendo para o cansaço e o sono.
mas a merda, a subversão já foi feita.
quando acordarmos será o mesmo sol que deixamos.
desta vez, não foi ele quem nos deixou.

posted by Marcio  # 1/13/2004 05:37:00 PM

Pomba II 

Eu sabia que toda manhã ele vinha me observar. Eu corria da melhor maneira que podia, com a coluna ereta, movendo o corpo lentamente para ambos os lados, sem realmente sair do lugar. Não sei porque fazia isso, mas gostava de sentir seus olhos em mim. Eram intensos. No último dia em que o vi, ele estava diferente. Não sei bem como, mas quando você observa alguém por muito tempo, conhece a rotina seus gestos em detalhes. E naquele dia ele estava diferente. Pegou uma pomba e a encarou, perto de seu rosto. Deixou a pomba voar e atravessou a rua, em minha direção. Nos olhamos, e foi a primeira vez que não apenas cruzamos olhares, mas que os dois viraram um só, uma só linha nos ligando entre a distância. Fugi do olhar, me sentia possuída. Saí da esteira, e quando virei de costas ouvi uma buzina gritando. Virei para trás e vi milhares de pombas voando para todos os lados. O ônibus freiou e uma multidão de pessoas correu para perto. Não consegui ver meu homem ali no meio. Saí correndo da academia, e quando passei por toda a bagunça de pessoas, foi ele que vi deitado no chão, sangue por toda parte. Uma pomba andava ao redor do corpo, e seus olhos tinham o mesmo vermelho de tudo.
posted by Guilherme  # 1/13/2004 06:22:00 AM

segunda-feira, janeiro 12, 2004

desbafo 

Não sei se você sabe...não sei se alguém te avisou...não sei o quanto eu sei...não sei o quanto poderei suportar...não sei se poderei mentir por muito tempo...você não sabe o quanto poderá me suportar...você não sabe o quanto poderá fugir...você não sabe que eu poderia começar a te amar...você não sabe de nada!
posted by Ce  # 1/12/2004 05:42:00 PM

III 

Acho que estou ficando velho demais para essas coisas. Dizem que com certa idade a gente não tem mais essas vontades. Diriam que eu sou um velho bobo que não sabe sua idade, mas a verdade é que eu não posso evitar, quando a vejo, sinto meu corpo inteiro pronto, como se fosse um adolescente de 15 anos, como se eu pudesse viver novamente a minha juventude.
Quando ela sai na varanda para molhar as florzinhas, sinto seu perfume aqui, de longe, e é como se Deus trouxesse aquele odor gostoso com o vento só para mim. E vejo cada fio do cabelo dela que esvoaça brilhando e refletindo o sol e desejo que eu pudesse tê-los em minhas mãos e que aquele lábio vermelho nos quais os fios grudam levemente, eu pudesse beijar, como se fossem uma flor fina e delicada.
Quando viu com surpresa, numa tarde ensolarada, a flor que lhe deixei e com dificuldade apanhou-a sorrindo, ah D. Ana, como me deu prazer.
Sinto–me bobo com relação aos meus sentimentos. O que seus filhos pensariam de mim? O que meus filhos diriam do pai? Que exemplos teriam meus netos?
Mas quem se importa? O prazer de poder olhá-la e você me sorrir nos nossos jogos de buraco aos domingos, valeriam qualquer desprezo familiar, qualquer chateação valeria, porque amar, amar você, D. Ana, é o único sopro de vida que ainda sinto que me resta.

posted by Ce  # 1/12/2004 05:29:00 PM

cartas 

eu reli todas as suas cartas antigas
e entendi muita coisa diferente.
pensava que suas letras redondas e laçantes,
sua falta de cuidado em terminar as linhas
e desenhos de esferográficos
eram só brincadeiras para passar menos tempo no papel
e deixar as cartas menos ralas que telegramas.
pensei ter lido telegramas, sempre.

e sempre me foi aborrecido saber sobre seus laços
ou seu sonho de ter entrado no mackenzie.
creme para as mãos, meias com desenhos da hello kitty,
programas da mtv e chocolates com menos calorias.
reli todas as suas cartas antigas e percebi que não falava de calorias.

envelopes impecáveis, a letra mais cuidado no envelope
para que os correios não se engassem porque você não se enganava,
você tinha planos e arquiteturas. você nem precisava mandar cartas,
mas mandava assim mesmo. para acabar aquela coleção de papéis de carta
que deixavam você com cara de menina e não de mulher.

e eu perdi o hábito de responder. e você foi perdendo a vontade de mandar.
e perdeu a vontade de escrever também.
e perdeu a vontade de que não enganessem o meu endereço.
e eu perdi seu endereço novo.
e você esqueceu de me ligar para dizer o seu endereço novo.
e eu então reli as suas cartas antigas
e entendi muita coisa diferente.

entendi que era para eu ter o cuidado em responder tanto quanto
você tinha de escrever. mas não era para ser descarado,
porque ambos éramos pessoas difíceis. e agora mais velhos, ainda mais.
entendi que era para que eu guardasse seu endereço novo
porque se precisasse, podia mandar eu uma carta ao invés de uma resposta,
porque você também queria responder cartas, com o mesmo cuidado
das pessoas que lhe enviaram. mas que eu não seria o único,
mas o mais esperado, porque eu sabia de seus laços,
de seu creme e de suas meias, dos seus videoclips
e da sua vontade de ser um pouco mais bonita

para mim.

posted by Marcio  # 1/12/2004 03:44:00 PM

o grande amor 

hoje, no metrô, encontrei-me com o grande amor. reconheci-a. cabelos curtos, um certo ar de preocupação com as horas (era domingo de manhã !), camisa branca, saia até o joelho, sandálios com um couro bem surrado. fitava-me de soslaio, fazendo a mesma pergunta que eu: "e agora?".

desci. ela procurou um lugar melhor para assistir minha partida e eu representei a melhor partida.

fitei seus olhos e o trem avançou. sorri "vamos nos reencontrar?". e saiu de seus labios um sorriso de sim.

posted by Marcio  # 1/12/2004 03:28:00 PM

tuas mãos 

entre os teus dedos, vou costurando alguns mares e cortando maremotos. me perdendo, na estrutura de tuas falanges feias, pele que recobre os ossos. o pulso se quebra para trás e acena um adeus. as palmas claras pedindo que chegue mais perto, mais perto, muito mais talvez.

quero que teu antebraço pare de proteger os teus segredos. que tuas mãos parem de esconder o sorriso. que deixe os dedos segurarem o lápis para desenhar, escrever o que suas mãos não costumam pedir.

se tocar minha mão, é como se recusasse.
posted by Marcio  # 1/12/2004 03:15:00 PM

geografia e estrelas 

a linha de teu nariz, conjunção de teus olhos e olheiras. as sombrancelhas que esperam e o cabelo que cai. algumas planicies saturadas em cor até o teu sorriso. o teu sorriso que está a revelia, terra-média. longe e quase só. estica o canto da boca até próximo das orelhas e ouvirá elogios. esses lugares que parecem bases de lançamento de foguetes, porque estão todas próximas às estrelas.
posted by Marcio  # 1/12/2004 03:13:00 PM

domingo, janeiro 11, 2004

a quinta estação 

há muito gostaria de estar com você, mas não posso ficar.
a noite está chegando e preciso aliviar um pouco minha fadiga.
posso ficar uns dois minutos e meio deitado no teu colo
esperando que você me diga do modo mais sincero que me ama.
mas daí precisaria de mais duas horas e um quarto para eu fazer o mesmo,
então é melhor que eu vá.
segura um pouco meu antebraço
e finge que esqueceu de me dizer algo do nosso filho que ainda não veio.
eu espero, um pouco irritado, a sua insegurança deixar de ser um obstáculo
para ouvi-la com toda atenção. aí você se cala e diz que não é nada,
que você também precisa de um descanso para não ter tantas olheiras de manhã.
eu toco teu rosto com o lado de fora da mão, porque a palma revelaria
a minha ingratidão e a minha vontade de não perdê-la. ergo sua face
pelo queixo porque sei que assim você pegará o meu rosto me beijará com violência.
mas percebendo a minha indiferença, largar-me-ia aos poucos, olharia nos meus olhos
para procurar a razão de tanta falta, de tanto vazio. afastando até achar o espaço
para derramar suas lágrimas, sozinha e com medo de não ter achado a pessoa certa.
pensando que está sofrendo e perdendo a juventude.
eu, por minha vez, alisaria seu cabelo e diria que está tudo bem,
que sou assim mesmo. que lhe daria um filho ou dois. que o meu fraco é o beijo.

e que te amo.

posted by Marcio  # 1/11/2004 07:06:00 PM

sábado, janeiro 10, 2004

Pomba

Dezenas de pombas levantaram vôo. Um ônibus cruzou o farol quase vermelho enquanto eu atravessava a praça, assustando alguns desavisados. Eu estava indo sentar no meu banco preferido. Eu fazia isso toda manhã, antes de ir para o trabalho. Sentei no banco, que ficava de frente para uma academia. Lá estava ela, correndo no mesmo lugar, lutando contra seu corpo. Uma luta inútil, não havia maneira de ele ficar mais belo do que era. Vê-la era totalmente necessário, era o que salvava meus dias. O trabalho, minha esposa, minha rotina infeliz, tudo parecia desaparecer naquela meia hora que a observava correndo. Correndo em minha direção sem nunca se aproximar. Amá-la de longe era totalmente inútil, mas salvava meu dia. Uma pomba se aproximou. Peguei-a na mão, encarei seu olhinho vermelho e depois a soltei. O sinal abriu, e atravessei a rua na direção da academia.
posted by Guilherme  # 1/10/2004 08:31:00 PM

quinta-feira, janeiro 08, 2004

café 

II

- Oh, o negócio é o seguinte: Eu to te olhando ali faz mais de hora! To sentada naquela mesa desde a hora que coloquei meus olhos em você! Eu estava fazendo compras, tenho um casamento pra ir e quem diria, vejo você ai...lendo o seu jornal! Nem ai pra nada. Estou ensaiando mil e uma coisas as quais poderia te dizer! O que a gente fala pra alguém num momento desses? E meu vestido, nem me lembrei mais dele, mas afinal que você tem haver com meu vestido, nada! Mas é que a gente fica nervosa quando vê o grande amor da nossa vida sentado numa mesa, lendo jornal e tomando café. Aliás que demora pra tomar um café! De qualquer forma, só queria dizer, eu nem sei o que eu queria dizer, mas só sei que achei você o homem mais lindo que eu já vi na minha vida e não acho que vá ver outros assim, porque sua beleza é única...ai que papel ridículo...mas já que comecei o que eu quero dizer é que tudo que eu quero nesse momento e parar no primeiro motel e transar com você a tarde inteira!

posted by Ce  # 1/08/2004 05:58:00 PM

Quem se interessa? 

Ela veio vindo com pressa, determinada, sem pensar, como que instintivamente. Tropeçou umas três vezes, mas isso não fez com que perdesse um minuto, continuou em direção a loja.
Ele viu ela vindo de longe, esbaforida, com as bochechas vermelhas. Ela já havia vindo diversas vezes, mas nunca assim, tão determinada.
Ela entrou na loja parou de frente dele. Olhou penetrante e abriu a boca...ele mal conseguia respirar...ela fechou os olhos e colocou-se a chorar sobre o balcão dele.
Ele ficou 5 minutos estático, sem saber o que fazer, dizer ou qualquer outra coisa que pudesse aliviar aquele choro silencioso. Via as lágrimas escorrendo pelos braços dela e nervoso, não parava de olhá-la.
Ela parou de chorar. Respirou mais calma e olhou-o.
- Eu desisto! – colocou papéis amassados sobre o balcão dele.
Ele fixou o olhar nos papéis, depois se virou para ela.
- Como assim? Qual o problema? – ele pergunta frio.
Ela tentou manter a calma, mas estourou.
- Faz dois anos que venho nessa agência! Faz dois anos que me sinto sozinha! Faz dois anos que só me mandam fitas com os homens mais repugnantes que eu já pude imaginar! Homens tão feios, estranhos, diria até bizarros! Pessoas que nem na rua se vê!
Ele continuou a olhá-la com a expressão séria.
Ela o olhou com ódio.
- Todas as minhas amigas saíram ao menos uma vez com alguém desse programa. Todas receberam fitas interessantes! Elas me convenceram a tentar mais uma duas, mil vezes e sempre a mesma coisa!!!! Será que eu sou tão feia assim que nem um homem interessante possa se interessar por mim?! – ela pôs-se a chorar.
Ele engoliu seco, mas manteve-se passivo.
- Eu sinto muito, senhorita. Não há nada que eu possa fazer. O programa funciona dessa forma: existe a sua fita e os homens que se interessam por ela lhe mandam as suas.
Ela tinha o olhar desesperado, ele nunca a havia visto daquela forma, tão descontrolada.
- Eu estou me desativando desse programa...hoje! – ela fechou os olhos, e como se uma súbita força invadisse a sua alma – Eu resolvi que vou ficar sozinha...ao menos por enquanto – ela deu as costas para ele e saiu andando desolada.
Ele apenas observou-a indo, agora devagar, quase sem vida de volta pelo caminho por onde veio.

****

Ela acordou com a campainha. Com o pacote de bolachas tombado sobre o corpo, os lenços sujos jogados sobre o sofá e a TV com um filme antigo que já havia visto mais de dez vezes.
Ela se espreguiçou, colocou a bolacha de lado e levantou-se em direção a porta. Abriu e não havia ninguém, apenas um pacote de correio. Curiosa pegou a caixa embrulhada em papel bege e examinou.
Ela entrou em casa e fechou a porta atrás de si, sentou-se no sofá e abriu o embrulho. Uma fita, como aquelas que tantas vezes já haviam lhe mandado. Teve raiva. Será que não havia deixado bem claro? Jogou a fita do outro lado do sofá, pegou o controle remoto e se pós a trocar de canais.
Ela sentiu uma ponta de curiosidade crescer dentro dela. Olhou de soslaio a fita e não se agüentou, colocou-a no vídeo.
Ela viu alguns risquinhos na tela e a imagem de um homem apareceu, ela conhecia aquele homem, era o rapaz da loja da Agência de encontros.
- Olá, você deve estar pensando o que diabos eu estou fazendo aqui, no seu vídeo. Não, isso não é um vídeo de agradecimentos por ter participado do nosso programa de encontros...
Eu trabalho a mais de 5 anos nessa loja. Meu horário de trabalho é de 8 horas diárias.Há dois anos que eu tenho ficado 10 horas no trabalho. Há dois anos que me empenho em escolher e editar as fitas perfeitas em meio a milhões de fitas de homens solteiros. Há dois anos que escolho as criaturas mais esquisitas, os homens mais improváveis de serem aceitos por qualquer mulher de bom senso. Editando seus vídeos de forma a se tornarem ainda piores e dizerem apenas as coisas erradas. Há dois anos que vejo você vir toda a semana nessa loja e que eu rezo para que não tenha se interessado por ninguém, nem ninguém por você. Há dois anos tenho vontade, mas não consigo, por medo, lhe dizer que você é a mulher mais bonita que já vi em toda a minha vida.
Há dois anos que quero lhe dizer que meu nome é Julio, que eu tenho 27 anos, que sou tão sozinho quanto você, que adoraria ouvir Edith Piaf com você, comendo salmão defumado com bolachas de água e sal. Há dois anos tento dizer para você, que sei que seu nome é Amélia, que sei que é apaixonada por filmes italianos, que sei que gosta da cor amarela e que ela fica muito bem em você.
Hoje, quando você entrou na loja novamente, achei que seria como sempre, fingiria minha indiferença e continuaria sonhando no dia em que iria lhe falar. Mas quando a vi chorar daquela maneira, meu coração estremeceu. Tinha que fazê-la entender que o problema não estava com você. Você é uma mulher maravilhosa, da qual nunca deixei que vissem aquela fita. Você é perfeita. Então peço desculpas pelo meu egoísmo e liberto você, espero que possa entender e não guardar muita magoa, porque as vezes o amor faz com que tenhamos estranhos modos de agir.
E se um dia puder se interessar...sei que não...enfim, seja feliz

Ela estava zonza, pálida, surpresa. Não sabia se sentia raiva, ódio, ou pena.
Ela se levantou de súbito e foi andando como todas as semanas em direção a loja.
Ele a viu descendo a rua. Teve medo.
Ela entrou na loja e o olhou nos olhos.
Ele continuava em silêncio e assustado.
Ela respirou.
- Eu vou fazer algo que nesses dois anos disse que faria caso alguém me mandasse uma fita e eu me interessasse... Será que você gostaria de tomar um café para nos conhecermos melhor?

posted by Ce  # 1/08/2004 07:26:00 AM

segunda-feira, janeiro 05, 2004

punch drunk love 

um blog romântico?
posted by Marcio  # 1/05/2004 06:10:00 PM

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