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punch drunk love

um blog romântico

sexta-feira, outubro 15, 2004

desde terça-feira 

o telefone tocou durante muito tempo, mas ele não se levantou para atendê-lo. com certeza seria alguém desinteressante, com notícias desinteressantes. nada mais do mundo lá fora o atraía. fez do seu pequeno apartamento seu pequeno mundo. não queria nada que trouxesse em si resquícios de vastidão. ele admitiu a pequeneza do ser humano e a levava às últimas consequências. foi até a janela. o mundo estava triste desde terça-feira. a ironia: o mundo que ele negara parecia colaborar com seus intuitos. a chuva escondia o horizonte atrás de nuvens cor de chumbo. apenas viu as nuvens e seu próprio reflexo. voltou para o sofá. deitou-se olhando o teto. abriria as portas o minímo possível. não queria as ruas e a rejeição que anda pelas calçadas molhadas. não aguentaria outros nãos do mundo. ela se foi. oquei. não vou lutar mais. chega. resolveu negar o amor se escondendo dele.

posted by Guilherme  # 10/15/2004 01:08:00 PM

sábado, junho 26, 2004

pontes 

atravessou a ponte a pé. lá embaixo o rio pinheiros e toda sua sujeira. do outro lado seu destino. queria rever o lugar onde a trombou pela primeira vez. trombou literalmente. ela, vivaz, descia a ponte de bicicleta. ele, desatento, olhava a paisagem. quando a ouviu gritando biii biii já era tarde. abriu os olhos e lá estava ela, linda, expressão de preocupação. ele rindo disse que ia a processar. ele gostou dela. ela gostou dele. encontraram-se mais vezes. andavam de bicicleta pela cidade, visitavam parques, qualquer lugar era pretexto para se verem. um antigo amor da garota voltou de viagem. a relação entre os dois ficou estranha. os passeios diminuiram. ele voltou a andar a pé. um antigo amor do garoto reapareceu (na verdade ele a procurou). não se reencontraram mais. às vezes ele atravessa a ponte, esperando ser atropelado novamente.
posted by Guilherme  # 6/26/2004 09:19:00 AM

segunda-feira, junho 21, 2004

ouro negro 

ela chegou no bar, apressada, tentando controlar seu corpo para que não suasse. ela sempre tentava o impossível. no reflexo do vidro ajeitou seus cabelos. procurou nos rostos algum traço conhecido. ele não havia chegado. olhou o relógio do celular. conferiu o horário no relógio do bar. meia hora se passou e ele ainda não havia chegado. tirou o brilho da bolsa e passou na boca. dispensou alguns homens que se aproximaram com um olhar distante, olhar de quem espera alguém. viu o vidro ser molhado pela chuva que iniciava. estudou novamente os rostos. estranhos, duros, nada amigáveis. não devia estar ali sozinha. outra meia hora passou. o celular tocou. o identificador mostrou que era ele. atendeu. guardou o celular. passou os olhos novamente pelo bar. algo em sua expressão devia espantar os homens. nenhum outro se aproximou. o vidro do bar já era só chuva. saiu do bar e subiu a rua pelo asfalto dourado. em dias de chuva os postes transformam o asfalto em ouro negro.
posted by Guilherme  # 6/21/2004 06:59:00 PM

sábado, junho 19, 2004

tardes e cigarros 

quando levantou o sol já estava caindo. sensação estranha. olhou para o lado e a única coisa que havia restado dela era o lençol amassado, de uma forma que lembrava as formas dela. foi até a janela e viu a cidade silhuetada, o céu vermelho. acendeu um cigarro, como se tivesse sido acendido pelo fim de tarde. Observou as formas da fumaça. uma espiral caótica, porém harmônica. não situava os acontecimentos do dia anterior de maneira coerente. a linha do tempo toda bagunçada. procurou pela casa, mas ela não deixou nenhum sinal, nenhuma pista, nada que pudesse ajudá-lo a achá-la. teria que esperar até semana que vem, como haviam combinado. mesmo bat-horário, mesmo bat-local, risadas em cima de piada tão velha. seria uma semana longa.
posted by Guilherme  # 6/19/2004 05:55:00 PM

quarta-feira, junho 16, 2004

cafés em noites frias 

Cheguei cinco minutos atrasado, após ter andado contra a noite mais fria do ano. Toquei a campainha e ouvi a sua voz soando metálica, como num rádio de pilha. Ela veio rápido, acompanhada pelos latidos de seu cachorro. Usava um cachecol colorido que parecia brilhar no escuro. Brinquei que ia embora e ela disse não senhor, abrindo os braços, me apertando em si mesma. Entramos e ela me ofereceu doces e café. Come vai, dúvido que não vai gostar. Aceitei apenas o café e fomos a cozinha. Sentei-me numa pequena escada e fiquei a observando preparar o café. Movia-se com leveza pela cozinha. As prateleiras altas demais para ela, baixinha. Eu não conseguia parar de sorrir. Impossível conter essa alegria objetiva que se mostra através de um ato tão simples. Como quer seu café? Muito açúcar? Me fala em porcentagem. Mas sempre nas perguntas incluindo seu gosto pessoal. O que eu podia fazer se não dizer a ela que fizesse ao seu gosto? Subia tanto mais naquela fumaça. O calor do café irradiando meu sorriso. Tive a falsa impressão de que muito mais era oferecido naquele gesto. O telefone tocou: a carona havia chegado. Voltamos para a noite fria. O gosto do café ainda na boca.
posted by Guilherme  # 6/16/2004 05:16:00 PM

quarta-feira, março 31, 2004

amor inventado num road movie 

era amor inventado, mas qual não é? fugiram de casa, juntos, como um casal, a estrada correndo por baixo do carro era o anel no dedo, um casamento diferente. inventaram o motivo da fuga. ninguém os prendia, tinham amor da família, tinham um certo dinheiro, um certo conforto. queriam outra coisa. queriam fazer história, uma história que só os dois saberiam, e que contariam um ao outro em pequenos gestos, em gritos pela janela. no primeiro hotel que pararam, transaram. e nunca havia sido tão bom. no segundo hotel foi melhor ainda. no terceiro começou a perder a graça. quarto hotel, quinto, sext. já sabiam a história de cor, ela parecia não caminhar, páginas em branco, caneta sem tinta. ela sentiu falta de casa pela primeira vez. ele, que havia seguido ela, que tinha menos motivos para fugir, não sentia. ele a deixou numa rodoviária. ela voltou pra casa, ele seguiu viagem no carro do pai, que havia roubado. a página voltou a ser preenchida.
posted by Guilherme  # 3/31/2004 01:23:00 PM

quarta-feira, março 03, 2004

Mais uma rua 

Wagner estava sentado na entrada de uma loja fechada, não contando mais os minutos que passavam. Uma criança chega e senta ao seu lado, Pai, volta pra casa, a mãe tá sentido falta. Foi ela que me mandou embora, pr'aquela casa não volto. A criança senta a seu lado, e não mais conta os minutos. Pai, vou ser que nem você quando crescer? Igual eu como? Não sei...Um grande momento de silêncio, os minutos indo embora sem serem notados. Tomara que não, Uéslei. Tomara que não o que, Pai? Tomara que você não seja igual eu. Outros muitos minutos escoaram com a rala chuva que começou a cair. Uéslei se levantou. Vamos pai. Ela me mandou embora de lá, reclamou que eu não tinha trabalho. Não volto. Wagner coloca a mão no bolso e tira uma nota de 5 reais. Entrega pra ela esse dinheiro, Uéslei. Wagner se levanta, afaga a cabeça do filho e anda na direção oposta.
posted by Guilherme  # 3/03/2004 07:17:00 PM

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